quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Lobices 2


...NASCEU o "lobices 3" *****AQUI*****

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

...FIM... 5 anos de bloguices...

"... a 19 de Novembro de 2003, no Sapo, nascia timidamente o blogue «lobices»... cresceu, foi caminhando através de palavras e imagens até que um dia passou para o Blogger... um dia cansou, ao fazer 3 anos e quase morreu não fosse o ter nascido logo a seguir o «lobices-2» (este que aqui está)... hoje, 19 de Novembro de 2008, cinco anos passados entre vós, eis que chega o momento de parar para descansar um pouco... talvez um tempo de gestação para um «lobices-3» quem sabe... mas, por agora termina aqui a missão do «lobices» que se apresta a agradecer a vossa presença ao longo destes 5 anos e a dizer-vos bem haja por tudo o que ele significou para mim... um até breve... e o meu obrigado do fundo do coração..."

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

agarrar o tempo

“…e os dias escorrem por entre os meus dedos e não os consigo agarrar… e as horas se esvaem em momentos de saudade e de desejos de presença… e os minutos contam quando se pensa no que queremos que seja e sentimos não poder ser… até que surge o momento em que o encontro se apraz nele mesmo e nos delicia com todos os segundos que o toque nos propicia… e os dias que escorrem pelos dedos deixam de existir e a paz volta a fazer-nos sorrir… e o ciclo continua numa luta de vontades e de saudades… as idas e as vindas e o abraço da chegada e o abraço da partida… ambos transmitem o mesmo mas com sentido diferente… ambos são enlaces mas um traz o sorriso e o outro leva a lágrima… até que nova vinda que nos anima surja após os dias que escorrem pelos meus dedos… e, nessa altura, desaparecem todos os medos e fica apenas a troca dos segredos que guardados foram nos momentos que escorreram pelos dedos… e esses breves dias que tão rápidos passam por nós, trazem-nos os sorrisos, os beijos, os abraços e sabemos que não estamos sós… temo-nos um ao outro, por tempo que sabemos ser pouco mas que vale pela ânsia daqueles que nos escorrem pelos dedos… e o beijo sela a doçura do tempo em que a dor perdura na esperança que depressa passe a amargura dos dias que nos escorrem pelos dedos e não os conseguimos segurar… sabemos apenas que, pelo menos, amar a cada segundo que passa é uma bênção que fica cá dentro e não foge como o tempo que gostaríamos de prender… mas a dor da ausência ajuda-nos a vencer…”

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

ventre



"...no meu ventre não escondo nada
...nem a noite nem a madrugada
...no meu ventre guardo a mágoa
...deste meu peito raso de água
...no meu ventre explode o amor
...que solto ao vento se esvai
...e em pélagos de sangue
...no teu rosto ele cai
...no meu ventre explode o amor
...sentido, dorido, sofrido
...amor passado, presente e futuro
...no meu ventre escondo tudo
...com o meu ventre expludo
...em míriades de estrelas
...que vagueando pelos céus
...enchem os lindos olhos teus
...no meu ventre escondo as palavras
...do meu ventre dou à luz as palavras
...do meu ventre
...de bem dentro de mim
...me entrego a ti completo..."

sábado, 4 de outubro de 2008

tela

“…gosto de desenhar no meu corpo a pura entrega de quem ama… gosto de desenhar na minha alma a luz dessa verdade… escrever com os meus olhos a leitura da saudade… garatujar nos sons as palavras sussurradas… saborear na boca, nos lábios a doçura do mel do teu beijo desenhado desejo de quem procura o abraço esperado… gosto de desenhar nos teus ouvidos as letras que formam os sentidos… desenhar, por fim, já por sobre o esboço da obra final de quem no auge do encontro sente-se sonho sabendo ser real… pairar na tela do teu corpo e desenhar as cores do amor que num todo se move completo no ser que temos por modelo… e sendo-o, tê-lo, possuí-lo e transformar a obra num plano final que dá ao desenho o toque especial como que uma assinatura sobre a obra acabada… depois, ficar a mirar tudo o que havia sido feito para ter ali, na minha frente, a concretização do sonho e saber que todas as palavras ditas ou as desenhadas ou as escritas houveram sido assimiladas, saboreadas e entendidas como brotadas de dentro do meu ser… gosto de desenhar sim, no teu corpo, o meu eu e no fim ao olhar a tela preenchida em ti soubesse ali ter tudo o que havias querido da presença do meu amor…”

terça-feira, 30 de setembro de 2008

refrescante

domingo, 21 de setembro de 2008

um fim anunciado

“… tudo nasce… tudo morre… eterno ciclo da vida do que quer que seja… até as estrelas morrem e dão lugar a super novas e talvez a novas galáxias… tudo parte dum princípio e tudo termina num fim… é assim a vida e tudo o mais que nos rodeia… acredito que o meu amor pelas palavras terminará apenas quando eu também terminar o meu percurso nesta vida… uma vida rica em tudo o que de mau vivi e em tudo o que de bom me foi proporcionado… levarei, um dia, um gosto amargo por findar mas levarei também um sorriso porque o meu caminho percorrido foi sempre o de amar… mas espero que esse momento natural para cada ser humano ainda venha longe e que a vida ainda me dê muita coisa para experimentar, vivenciar, saborear, e ficar a saber um pouco mais para além de tudo o que aprendi até aqui… um dia, a vida findará e levarei comigo tudo o que me deu sorriso e lágrima, tudo o que me deu prazer e dor… levarei certamente o Amor… mas não estou a falar de mim mas sim deste meu blogue… o Lobices nasceu, um dia, no Sapo, mais precisamente no dia 19 de Novembro de 2003... Tímido e titubeante lá foi crescendo e tomando forma… teve filhos e irmãos e manteve um rumo a que lhe dei o lema de que -Amar é o caminho - e assim ele foi vivendo… porém, depois de passar pelo Blogger e de ter atingido uma certa notoriedade, a verdade é que entendo, como seu criador e mentor, que o Lobices chegou ao fim do seu percurso como tal, como blogue… no próximo dia 19 de Novembro ele fará a bonita idade de 5 anos, cinco anos de paixão pela palavra, pela imagem, por tudo o que me deu prazer em vos transmitir e principalmente por todo o amor que lhe dei e nele deixei… as palavras ficarão lá para todo o sempre e ele apenas morrerá fisicamente… a mente, essa, estará sempre viva… o Lobices sou eu e eu ainda não morri nem penso morrer… todavia, vou preparar a vereda para o seu fim… deixarei aqui, como sempre deixei, uma parte de mim… o livro que do blogue nasceu está vivo e guardado no meio de outros livros que o rodeiam… o Lobices cumpriu a sua missão… breve será fechado num adeus presente, nunca ausente, mas vivo e latente no meu coração… espero que ele, o Lobices, vos tenha feito alguma companhia enquanto aqui viveu… em breve vos dirá, Adeus!…”

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

encontro

“...trazias o perfume de uma flor e o sabor de uma iguaria... trazias tudo o que eu desejava, o que eu queria... trazias contigo a doçura do teu olhar e a leveza do teu toque para o meu corpo amaciar... trazias o sol e o brilho das estrelas... trazias o sorriso estampado na pele e o cheiro da maresia quando se espalha na areia... trazias tudo o que um homem anseia... trazias o amor dentro de ti, o amor que se dá e não se regateia, o amor que sempre perdura mesmo quando partes... trazias a esperança no rosto e os lábios entreabertos prontos para o beijo, para o doce toque em que todos os sabores se transformam em mel... de braços abertos meu ser te aguardava, ansioso... certo da tua vinda, da tua chegada... e o abraço se deu num enlaçar de paz e de ternura... e todo o ser se deu e se recebeu e as mãos se entrelaçaram... e num serpentear de passos arrastados porque leves, os caminhos nos levaram... e o sabor a tudo num leito se aconchegou... e o amor que veio e o amor que esperou, por ali, naqueles instantes infinitos, se quedou e a si mesmos se entregaram na paz que só os que amam sabem sentir...”

terça-feira, 29 de julho de 2008

movimento

“... terminaram as palavras... as letras deixaram de existir... as frases já não podem ser formuladas e a comunicação escrita ou oral findou... o Homem deixou de poder dizer um simples vocábulo e nem um só ditongo se consegue escrever ou articular... mas a sua necessidade de gritar leva-o a inventar novas formas de comunicar... passa a usar o seu corpo para insinuar as sílabas e começar a juntar os elementos que formam a ideia, a imagem ou apenas o sentido... o seu corpo passa a ser a caneta ou a corda vocal... e as mãos tocam ali, acolá ou aqui... movem-se no espaço e sentem que do outro lado existem outras mãos que fazem o mesmo... e todos começam a gesticular... e do gesto, passam ao encontro, ao toque mútuo, ao abraço, ao enlace, à carícia, ao beijo, à ternura, a todo o género de acto que defina um desejo de comunicar, de dizer: estou aqui, estás aí, podemos falar?... então trocam-se os toques e todos se movem no mesmo sentido... no Mundo existe o silêncio mas passou a existir o abraço... algo que o Homem já havia esquecido há muito... e apesar de o riso não ser articulado, existe o sorriso... e apesar do grito se ter silenciado a lágrima pode escorrer pela face e dessa forma se diz o que se passa, o que se sente, o que se deseja, o que se vê e o que se quer que seja entendido... o Homem calou a voz mas não consegue deixar de comunicar... e o seu corpo passa a ser o elemento base dessa acção... e, dessa forma, mesmo não podendo dizer que se ama, pode-se dizer o mesmo num sorriso, num beijo, num toque, num abraço, num desejo... e o Amor, por mais que o Homem possa perder as suas faculdades, jamais morrerá... e Amar, continuará a ser o único caminho!...”

quarta-feira, 23 de julho de 2008

prova

“... não existe forma de se provar ao ser que amamos que o amamos... não há sinais, nem falas, nem gestos, nem toques, nem palavras... não existe nada que possa significar ou ter o sentido de dizer e provar ao ser que amamos que o amamos... se não existe então forma de o fazermos, como podemos provar ao ser objecto do nosso amor que o amamos?... não podemos provar!... e não podemos provar porque não existe forma de o fazer, logo só o conseguimos amar se na verdade o amarmos... e é amando-o nas mais pequeninas coisas que, sem provar, lhe vamos dizendo que o estamos a amar... é preciso que o ser que é amado sinta que é amado e essa é a única forma desse ser ter a certeza que é amado... quem ama não pode provar que ama mas quem é amado sabe sentir que o é... logo, a forma de provarmos que amamos o ser que amamos é este ser sentir que é amado... e só este ser que é amado saberá entender a verdade do nosso amor... e então, aí sim, ele saberá que é amado nas mais pequeninas coisas que fizermos, que dissermos, quando tocamos, quando gesticulamos, quando lhe enviamos um sinal, um olhar, uma forma do nosso próprio estar que nos é peculiar e único quando estamos a amar esse ser... o ser amado saberá que o é mesmo que quem o ama não o consiga provar, nem metafórica nem fisicamente... amamos com o nosso sentir, com o nosso coração, com o nosso corpo e com a nossa Alma, mas todos estes elementos são refutáveis, logo só o outro, quem é amado, saberá distinguir do nosso sentir, do nosso coração, do nosso corpo, da nossa Alma, os elementos comprovativos do amor que por ele nutrimos... como sempre disse, amar é dar, logo só quem recebe é que sentirá essa dádiva... é pois, dando-me-te por completo, que te amo... é pois, recebendo-me por completo que sentirás o meu amor...”

sexta-feira, 11 de julho de 2008

viver

"... havia apenas um silêncio todo ele verde formado por árvores frondosas, um cheiro a erva, a pinheiro, a eucalipto e o marulhar de um riacho com o bater compassado da água nas pedras soltas do seu leito... o silêncio também tinha asas... eram os pássaros que não distingo as espécies, um milhafre e quem sabe talvez uma águia... era um silêncio que também possuía a qualidade de ser tocado, bastava para isso, abrir os braços e inspirar fundo a plenos pulmões e sentir o seu abraço dentro do corpo beijando a alma... era um silêncio feliz porque me fazia sorrir e cerrar os olhos para o ouvir... um silêncio que também se via mesmo sem o olhar... o silêncio puro, alvo, cristalino, todo ele formado de muitas coisas que o tornavam único... tê-lo ali comigo era uma espécie de bênção e senti-lo ainda me provocava mais prazer... deixei-me ficar, ali nele deitado a usufruir a sua existência... de olhos fechados sabia-me fazer parte dele... senti-o penetrar-me devagar com suavidade e deixei-me embalar numa canção sem acordes mas que me deixavam perceber o porquê de tudo... ali, uma só molécula e eu fazia parte dela... um só mundo... um só ser... o sagrado estatuto de viver..."

segunda-feira, 7 de julho de 2008

correntes

“... a vida tem correntes que nos prendem e não nos deixam vaguear... são as correntes de ferro forjadas nas condições dos agravos que ela, a vida, nos abala... a vida tem correntes que nos levam em várias direcções como as vagas de um mar encapelado ou de um rio em tormenta... são as correntes invisiveis que nos empurram para a frente... a vida tem correntes sem correntes que nos fazem estagnar... são como os lagos mansos em que nem uma folha se move e assim, presa, depressa esmorece e morre... a vida tem tudo o que podemos desejar e tudo o que não queremos e temos de aceitar... a vida é bela e doutras vezes, do outro lado dela, a vida é como o fel em que o sabor doce do mel não existe e não se deixa provar por sedentas línguas de tanta e tanta gente neste longo mar a esbracejar... porém, a vida é uma realidade que nos faz aqui estar... ela nos empurra, ela nos prende, ela nos sujeita às mais diversas e caprichosas vontades de um poder mais forte que a nossa própria força... a chamada Lei da Atracção faz com que se consiga moldar a vida à nossa maneira, só que essa mesma Lei funciona para todos e se eu atraio para aqui haverá o meu oposto que atrairá para ali... vencerá algum ou perderemos os dois?... só a vida o saberá quando dermos pelo lado em que nos encontrarmos em determinado momento... porém, nada nos impede de continuar a perseguir sempre o mesmo caminho e, como tenho dito sempre e por, talvez, demasiadas vezes, vezes a mais, amar é o caminho e não interessa qual o caminho, interessa isso sim, caminhar... mesmo que as correntes nos prendam ou nos empurrem, forcemos os elementos que nos cercam e caminhemos em frente com a firme certeza que o amor está lá, lá bem ao fundo, em algum lugar à nossa espera... não desesperemos... avancemos com redobrada força... tenhamos confiança... acreditemos que amamos, que somos fiéis e que somos verdadeiros, no mínimo com nós mesmos... viva-se o momento, momento a momento apenas com um único intento: chegar lá, chegar aos braços do ser que amamos, do ser que desejamos alcançar, mantê-lo ao nosso lado, abraçar, beijar, sentir, viver, enfim, numa palavra, amar...”

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Presenças

“... as presenças são o tudo que se deseja vivenciar... entregamo-nos ao olhar, ao toque, ao sabor, à doce noção de que estamos exactamente onde e como o havíamos desejado... as presenças são o terminar da ânsia e o início da suave cedência à ternura e ao começo da tão almejada aventura... as presenças são o tudo por que lutámos na véspera e na antevéspera e nos dias que as antecederam... não sabemos, à vezes, quantas vésperas esperamos até ao dia chegar... umas vezes, o tempo passa mais depressa, outras vezes, ainda que demore o mesmo, tendem a passar mais depressa porque a ânsia o empurra e o dia de amanhã torna-se o hoje futuro do dia de ontem que se houvera esperado... mas, passe o tempo que passar, as presenças que se tornam presença, esquecem a ausência e se transforma na entrega que se aguardou... e a presença vive das presenças que as ausências não deixam viver... e a entrega flui e o mel barra o pão doce do corpo que o forma ora em suaves sabores, ora em orgias de paladares que se confundem por tão diversos e contínuos em que se tornam... e as presenças amornam então em carícias que só mesmo as presenças permitem... mas o tempo voa e desaparece porque enquanto presentes não damos por ele passar... e, de repente, sem darmos por isso, a ausência se torna de novo presente na presença das presenças e deixa que estas esvaziem os corações numa dor surda e desmedida porque sabedores da partida... e as partidas aparecem de repente e as mãos tentam segurar o tempo que resta mas a força da partida depressa faz deslizar os dedos pelos dedos até ficarem no toque das pontas uns dos outros... fica também o beijo doce da despedida e o doce olhar, ainda que triste, da partida... mas breve, o sorriso de novo surgirá porque rápido uma nova presença virá e o ciclo se fecha num círculo de desejo até que uma nova presença se transforme ela só no mais terno e sedento beijo..."

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Suavidade

domingo, 22 de junho de 2008

Amor

“... nunca te falei de amor... tenho falado imenso sobre como amar ou sobre o que é amar ou sobre a diferença entre o amar e o gostar... tenho falado muito sobre como é que sabemos quando estamos a amar, quando sabemos o que é amar... como é amar, porque amar é o único caminho... mas nunca te falei de amor... nunca te falei desse sentimento lindo que me envolve numa capa protectora e me faz sentir feliz e bem disposto... nunca te falei desse sentimento tão nobre e tão belo que nos faz sentir o principe dos contos de fadas... nunca te falei de amor apesar de já ter falado tanto de como amar-te... é fácil amar-te... é bom amar-te... é tão doce saber que te amo, que te estou amar como é doce saber que me amas, que me estás a amar... é tão simples e tão perene o saber que amamos, que nos amamos, que somos um só apesar de formados por dois seres distintos... é tão bom amar-te... tão simples amar-te... tão doce saber-me amado... pois, mas nunca te falei de amor... do que é o amor, de que é que ele é feito e do que é que ele nos faz... como tenho dito, quando falo de amar, amar é sofrer, por isso e em primeiro de tudo, o amor é dor... é uma dor que nos preenche o peito e se alastra pela alma adentro como se de uma doença se tratasse... depois, não tem cura e a febre sobe e o amor recrudesce e enobrece quem ama... o amor é o fruto do acto de estarmos a amar... por isso, o amor dói... é como se fosse um parto com dor, quando se ama... do acto de amar nasce o amor e desse nascer, dessa alvorada de luz, a dor povoa-nos e cerca-nos para o resto das nossas vidas... amar é tão simples, tão fácil, tão bom, tão doce... é apenas doarmo-nos ao outro numa entrega total e sem esperar nada no retorno... daí que seja fácil pois dar é apenas uma acção... o amor é o que nasce, o que vem, o que surge dessa acção, dessa atitude de dádiva... e, por isso, dessa dacção, dessa entrega, algo sai de nós, algo se desprende de nós e é esse algo que transforma o acto de amar numa dor profunda, numa dor quente, numa dor sem dor mas que dói... e é nessa dor que sentimos que se ama, é no sentir dessa dor que sabemos que estamos a amar e a sermos amados... é nessa dor que se nos revelamos um ao outro com a fusão de dois seres num só... e nessa fusão, o amor é... e ele só o é, ele só existe, ele só é real se nos fizer doer... e quão purificadora é essa dor, quão sereno é esse sofrer, esse acto de querer, esse acto de receber já que amar é dar, o amor é o que se recebe e nesse saber que temos algo que nos é dado pelo outro, sabemos porque a dor, a partir daí, se instala, vibra, arrepanha, angustia, inebria também, anestesia-nos e a dor se transforma, por aceitação, na mais doce forma de amarmos... se não sentires que te dói então é porque não amas... bendita, pois, a dor que me invade, que me transcende e me faz saber o quanto te amo!...”

sexta-feira, 13 de junho de 2008

pedir

“... pedi para ver o invisível e deram-me a cegueira... pedi para ouvir o inaudível e obtive o silêncio... pedi para tactear o nada e consegui o caos do tudo... pedi sempre o que quer que fosse que me viesse à ideia e o retorno era sempre o oposto... a conclusão óbvia era não pedir ou então pedir apenas o real, o vivo, o palpável, o som, a luz, a beleza... nunca tive a certeza se terá sido a melhor opção... mas a verdade é que a partir do momento em que pedi apenas o viável, as coisas se tornavam passíveis de obtenção... pedi amor e tive-te... pedi um beijo e saboreei-te os lábios... pedi um abraço e amornei meu corpo na tua sedosa pele... pedi um toque e tive-te completa... pedi um olhar e consegui a imagem real... pedi um som e ouvi tua voz num doce dizer que me amas... pedi-te presente e tenho-te em mim por completo... pedi uma ternura e senti amor... pedi apenas o que podia obter e nada me foi por ti negado... senti-me preenchido pelas mais pequeninas coisas que de tão pequeninas se tornam no todo tão desejado... pedi para te amar e senti-me amado... que mais te posso eu pedir que já não me tenhas dado?...”

terça-feira, 10 de junho de 2008

pureza

sexta-feira, 6 de junho de 2008

doar

“... abre-me os teus olhos e deixa-me mergulhar no teu olhar... abre-me os teus braços e deixa-me enlaçar no calor de um abraço... abre-me os teus lábios e deixa-me sentir o mel do teu beijo... abre-me o teu corpo e deixa-me ser possuído pelo desejo... abre-me a tua alma e deixa-me penetrar o teu ser... sentir tudo o que sei teres para me dar... amor de tanto amar... abre-me os teus ouvidos e deixa-me sussurrar as meigas palavras que tanto gostas de ouvir... e pele com pele sabermos que somos e sentirmos o doce aroma do mar que nos embala no cheiro da maresia que de nós mesmos exala... olharmos o interior do sermos apenas um acto de amor... mergulhar na seiva que a pele produz no sabor pleno em que tudo se transforma em luz... e o sol nos sorri, numa conspiração mútua do que ele sabe sobre mim e sobre ti... e o calor que nos abrasa arrefece-o porque mais forte que ele... e o amor preenche o momento em que nada mais somos do que pétalas suaves vogando nos ares como as asas das aves... e o seu planar, em pleno voo, de tanto sentirmos, tu te me entregas e eu a ti me doo...”

segunda-feira, 2 de junho de 2008

quinta-feira, 29 de maio de 2008

singelo

“... não, não te movas... deixa-te estar tal como estás... aí, serena, em paz... deixa-me olhar-te mais uma vez para além das muitas vezes que te olho, que te toco ou que te sinto... deixa-me ver a tua face, os teus olhos, o teu brilho ou até mesmo a tua alma... deixa-te estar assim, serena, calma... deixa-me olhar-te sempre, tal como te olhei ontem, deixa que te olhe hoje e amanhã... quero tudo já, mesmo que demore a eternidade nada me faz mais feliz do que esta tão suave felicidade... o prazer de te ver, de te ouvir, de te sentir, de te saborear... o prazer de te amar... o prazer de te saber aí ou aqui mas dentro de mim, sempre, perene, nunca ausente... é um estádio puro de loucura sã a que vivi ontem a que vivo hoje a que viverei amanhã... é um saber com sabor num saborear a mar... o mar do verbo amar num deixar fluir o teu ser e o meu estar... e o beijo flutua no ar e pousa de mansinho no teu regaço, singelo gesto do mais desejado abraço...”

terça-feira, 27 de maio de 2008

sábado, 24 de maio de 2008

graal


“... avanço na direcção certa ainda que não saiba o caminho, mas avanço... não me deixo ficar a olhar para a vereda que já percorri... avanço em frente, passo a passo, com cuidado mas com força e determinação... não são os meus pés que caminham mas a minha alma, o meu sabor de caminhar e o meu saber de que o estou a fazer... avanço porque quero... porque espero... porque sei que vou encontrar... o que quer que seja ou qualquer que seja o meu destino, a minha meta, a minha linha de chegada (a linha de partida já se esvaíu da minha memória), eu sei que a recompensa está lá... seja ela minúscula ou enorme... mas não é o seu tamanho que me move... mas sim o ter de ser... o querer, o amor, o desejo de amar... o caminho mais nobre, mais salutar do ser humano: amar!... vou sem olhar para trás... afasto os escombros dos prédios destruídos da guerra que se travou dentro e fora de mim ao longo dos anos e que foram ficando ali à minha frente porque nada pode ficar para trás... não devemos olhar para trás, não, mas tudo o que passou vai connosco na nossa caminhada... é preciso, pois, afastar o entulho, o pó, as pedras aguçadas que nos cortam o ser e continuar a correr... a percorrer... a olhar em frente, erectos, de cabeça erguida, de olhar brilhante e não turvado por uma ou outra lágrima que teime em cair... apenas tenho de ir... e vou... avanço sem medos, sem receio do que vou encontrar... o que lá estiver será o que calhar, o que tiver de ser... o que lá estiver, no final da caminhada será apenas o meu tudo ou o meu nada... mas o que quer que seja, seja tudo ou seja o nada, o que quer que seja, será meu... meu para abraçar, para abarcar, para enlaçar, para gritar ao mundo que por mais desconhecido que seja o fim do caminho, devemos avançar, com ternura, com amor, com garra, com dor se preciso for, com todo o afinco, com todas as nossas forças na procura do nosso “graal”, na busca do sentido da nossa vida, para que no acto final, qualquer que ele seja, eu saiba que fiz tudo o que me foi possível para saber que valeu a pena, que nada perdi, que fui quem fui, que sou quem sou, que serei quem tiver de ser, no aceitar único de que o percurso certo e correcto é apenas saber e querer amar...”

sexta-feira, 23 de maio de 2008

amizade


...os meus amigos (o gato já não está cá)

segunda-feira, 19 de maio de 2008

poema da vida

“Vida!... Beleza infinita!... Ela é para mim um lago estranho num grande jardim com flores que não apanho... Vida!... Beleza esquisita!... Ela é para mim uma velha flor, talvez um velho jasmim mas com pétalas com cor!... Vida!... Essência de um pecado... ponte para uma eternidade... beleza de um ser alado... mágoa e saudade... brinquedo de um entretido... desespero de um enganado, de um falhado... Vida!... Beleza infinita que vemos findar... beleza esquisita que queremos admirar... essência de um pecado que não podemos retrair... beleza de uma ponte que não queremos atravessar... beleza de um alado que não podemos comparar... beleza de uma mágoa que não queremos possuir... beleza de uma saudade da qual queremos fugir... Vida!... Beleza de um brinquedo nas mãos belas de um pequeno ser... beleza de um desesperado que só vive a sofrer... beleza de uma ave que voa no ar plácido... beleza de um mar muito azul que marulha lentamente... Vida!... Vida!... Beleza de uma flor branca, de uma cor viva... beleza que não sabemos ver e a qual é tão bela para se viver... Vida!... Suspiro lento de uma hora que passa... dor atroz de um mal que dói... Vida!... Conflito estranho, sem sentido, mas uma vida que quero viver!...”

quarta-feira, 14 de maio de 2008

deixem-me ser um poema

“…deixem-me ser um poema!... deixem-me ser todo eu um livro… queria ser todo eu algo escrito, algo para dizer ou ser dito!... queria ser todo eu um poema para num livro à tua cabeceira pousar, sentir-me ser lido e nas tuas mãos versejar... deixem-me ser um poema!... se o livro que desejo ser, em livro um dia se tornar, que seja o livro do livro lido por todos os que precisam de amar... sou assim, o poema desta manhã, as palavras desta tarde e os sons desta noite… sou a manhã deste poema e a tarde destas mesmas palavras, a noite dos sons do fogo que arde... sinto assim a sua fragrância, numa ânsia de palavra dita ou mesmo de palavra escrita... sinto o odor do poema versejado, ouvido, relido, mirado, querido ou até mesmo odiado... sinto o cheiro da palavra que escrevo ou da palavra que leio... sinto o poema dentro de mim com a manhã a nascer em ti ouvindo a tarde adormecer na noite do teu sonho de prazer... sinto-me poema... sinto-me verso… sinto-me palavra... sinto-me viver... deixa-me ouvir... deixa-me ler, porque não quero sentir a dureza do insulto que o silêncio em mim provoca... não quero ouvir os gritos lancinantes dum silêncio que tanto me choca… quero ouvir as palavras ditas… quero ler as palavras escritas… quero ouvir os sons que elas me trazem… quero ler as tonalidades que elas fazem… quero sentir o impacto do dito… quero sentir o embate do grito... não quero ler a palavra não escrita... não quero ouvir o silêncio do livro vazio... não quero escutar o silêncio do dito não dito… quero sentir a pureza da voz que a palavra escrita me traz… quero sentir o estrondo do grito que a palavra dita me faz... quero sentir que és… quero sentir que estás... quero sentir as palavras e quero os livros com elas gravadas!... deixem-me ser um poema!... escrevo assim o poema desta manhã com as palavras da tua tarde e os sons da nossa noite e, se a noite chegar, sem que a manhã tenha surgido, não tenhas receio, não tenhas medo, porque mesmo assim eu te leio...”

segunda-feira, 12 de maio de 2008

sentimos

“... és sinónimo de paz, na palavra que me dás... és sinónimo de beleza nesse olhar profundo sem mácula de tristeza... és sinónimo de alegria no toque suave que em mim um teu sorriso cria... és sinónimo de paixão quando disfruto o bater mais forte do meu coração... és sinónimo de harmonia quando me beijas enlaçados em sintonia... és sinónimo de luz quando no escuro da noite teu amor me seduz... és sinónimo de serenidade quando no abraço matamos a saudade... és sinónimo de ternura quando na partida o teu olhar em meus olhos perdura... és sinónimo de puro amor quando nos afagamos com a alma e os corpos sem pudor... és saudável loucura quando sinto a nossa mútua procura e nos afogamos no delirar de um sentir que tudo é tão simples quando sabemos porque é que nos estamos a amar... és tudo o que um simples mortal busca na imortalidade que a qualquer um ofusca no silêncio do grito que amaina a febre do ruído que quebra tudo mesmo que fosse granito... és tudo o que o amor busca no olhar, no toque, no beijo que de momento em momento se reduz ao desejo, trazendo como prenda, tecido em flocos de doce renda, o caminho percorrido como sempre desejado, obtido e que a luz em nossos corações se acenda para num florir matinal ou num anoitecer normal, o doce sabor nos acorde ou nos adormeça em profunda certeza que o dia seguinte mais não será do que um novo fruir do amor que nos envolve e a cada momento nos devolve na mais plena pureza do aceno tão natural como há pouco sobre nós desceu... porque se te sinto minha, sei que me sentes teu...”

sexta-feira, 9 de maio de 2008

ternura

segunda-feira, 5 de maio de 2008

serenidade

“... ela, a calma, tinha-se aproximado de mim como não me conhecesse... eu já a conhecia há muito pese embora muitos e muitos momentos em que não a via ou não me encontrava com ela... porém, desta vez, ela fez de conta que não sabia quem eu era... aproximou-se mansamente e como quem não quer a coisa, saudou-me ao de leve com um leve acenar pela passagem, pelo encontro... não lhe liguei demasiada importãncia mas educadamente correspondi ao seu aceno e sorri-lhe... foi nesse momento que ela olhou para mim e, de chofre, me perguntou: - Porque sorris?... Naquele instante não encontrei resposta mas uns segundos após, saiu-me uma frase lenta e suave: - Porque não haveria de sorrir?... Acho estranho, disse ela: Estás sempre preocupado, cheio de problemas, a tua cabeça é um vulcão, a tua alma desespera, o teu coração bate e os teus olhos não choram... Pois, respondi eu, eu sei mas por vezes caio em mim e entendo que de nada me vale o lamento; por certo que estou errado quando desfaleço e sentado ou deitado me concentro nas agruras da vida; depois penso que a vida é apenas aquilo que dela fazemos, aquilo que dela queremos, aquilo que dela podemos tirar... a vida nada nos dá excepto ela mesma, ou seja, ela se nos entrega numa única vez e após instalada em nós, somos nós mesmos que a gerimos... temos esse poder, o poder de moldar os dias, as horas, os minutos e até mesmo os segundos dos nossos momentos aqui e agora, ontem e, quem sabe senão ela, também amanhã... somos nós que decidimos enfrentar ou não o momento que se nos depara, seja ele bom ou mau... é apenas uma questão de escolha... mas tu não eras asssim, disse-me ela, a calma... sim, eu sei... na verdade, a vida foi tão diversa e tão cheia de coisas e coisas que houve vezes em que não te consegui enfrentar ou mesmo aceitar e desesperei... porém, houve também momentos em que soube que me podias ajudar... por isso te sorri agora... sei que me podes inundar e tornar-me pleno de mim mesmo e conceder-me ainda mais a capacidade de me dar ainda mais do que já tentei... sei que me ajudarás... porque me trazes a sabedoria, a sensatez, a alegria, a ternura de me saber feliz ao sentir que amo, que o caminho que percorro é o único que me pode serenar, o único que me pode pacificar, a caminhada plena para amar... e, com amor, se ama e com amor se perpectua a nossa vida, mesmo para além da morte... por isso, hoje, te sorrio por saber o quanto amo quem amo, quem me dá a plenitude da serenidade, num amar terno e seguro, forte e puro, real que de tão real, a ti o juro...”

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Beltane



Beltane é uma antiga festa gaélica que se celebra em 1 de maio no hemisfério norte. Seu nome deriva do irlandês "Beáltaine" ou do escocês gaélico "Bealtuinn", ambos procedentes da antiga palavra irlandesa "Beltene", que significa "fogo brilhante". Outros nomes pela qual essa festividade é conhecida são: Mayday, Walburga, Glan Mai, Shenn da Boaldyn, Bealtinne, Beltine, Beltain, Beal-tine, Beltan, Bel-tien, Beltein. Entre tribos da Gália meridional, se aponta o nome de Giamonia, derivado do mês do calendário de Coligny, Giamonios.

A Mãe Terra, representada pela Deusa, despertou e se encontra fértil e o Jovem Deus expressa seu amor por ela. Na tradição escocesa, a Feiticeira Cailleach Bheur, renuncia por fim seu combate contra o estio lançando sua vara em um azevinho e converte-se em uma pedra cinza, forma sob a qual permanecerá até que retorne sua estação. Em Leicester (Inglaterra) se celebrava antigamente a correria da Negra Annis para perseguir a lebre do estio. A Negra Annis (Black Annis) é uma bruxa do inverno de Midland, e a perseguição simboliza o final de seu reinado e o princípio do verão. Nas culturas celtas constituía tabu caçar a lebre sagrada em qualquer outro tempo.

É o tempo em que as fadas retornam de seu descanso de inverno, despreocupadas, risonhas e loucas por brincadeiras. Na noite anterior a esta festa, em tempos muito antigos, as pessoas colocavam ramos de macieiras nas portas e janelas de suas casas para protegerem-se de feitos inesperados que ocorriam naquela noite e que, na maioria das vezes, não tinha uma explicação racional.

Na ilha de Man, o membro mais jovem da família recolhia flores de onagra (Erva dos burros), na véspera de Beltane, e as espalhava pelo chão da casa para assegurar proteção durante este evento. Na Irlanda se acreditava que a comida que sobrasse da celebração não devia ser ingerida e deveria ser oferecida às fadas.

Há muitas tradições em relação à festa, inclusive fala-se de uma lenda que conta que na noite de Beltane quem se sentar embaixo de uma árvore poderá ver a Rainha das Fadas cavalgando em seu corcel branco ou ouvir os cascos de seu cavalo cruzar as montanhas durante a noite. Uma lenda arturiana, afirmava de Guinevere (Ginebra), considerada por muitos como descendente dos duendes, cavalgava nesse dia para recolher plantas verdes e flores de espinheiro.

O 1 de maio também está associado com Robin Hood, na verdade, na Inglaterra este dia se chamava de Robin Hood. Ele era considerado um espírito selvagem dos bosques. Na Grã-Bretanha, alguns desses antigos espíritos e deuses da natureza passaram para as tradições populares como duendes dos bosques e receberam nomes como o de Hob, Robin ou de Alegre Robin. Pode ser até que seja essa a verdadeira origem das lendas em torno de Robin Hood que conhecemos hoje através dos filmes.

Outros duendes, todos relacionados com a vegetação, a primavera e verão podem ser observados nesta noite. Se trata de uma época muito mágica, pois se diz que entre os dois mundos (humanos e das fadas) há uma linha muito tênue que os separa e qualquer um que adormeça embaixo de um espinheiro no primeiro de maio corre o risco de ser seqüestrado pelos duendes ao passar acidentalmente para o seu mundo.

Essa é uma época propícia, para as magias que celebrem a fertilidade e a sexualidade.



(Texto, com a devida vénia, retirado do Site: www.rosanevalpatto.tdr.br)

domingo, 27 de abril de 2008

poetas

"...quis ser um poeta que tivesse asas... e poesia em cada voo... quis ser um poeta cujas palavras vos enchesse a casa... e que vos reencontrasse em cada dor... quis ser um poeta que fosse fogo e água e sol e terra... e que com todos esses elementos criasse um novo ser... mas há poetas que são simplesmente poetas... há poetas que ainda nem sabem que o são... há poetas... imensos... tentei um dia ser um desses poetas... e sei hoje que um poeta nunca morre... faz-se em vida mesmo na morte, soltam as asas e levam-vos o vento... protegem-vos e fazem-se ao caminho convosco... peregrinam em vós... que com ele caminhais... bebeis o sorriso dos poetas... vedes pelos seus olhos, e por detrás desses olhos, uma alma que brilha e ilumina cada recanto escuro da vossa própria alma... e é em dias de negro e frio que mais precisais dos poetas... porque eles são fonte, força e semente... um poeta nunca mente... ele, o poeta, é a vossa armadura, a vossa madrugada e o fim de tarde... a vossa lua nova ou lua cheia... são perenes todos os poetas... nascem e renascem... mesmo sem nunca morrerem... nada destrói um poeta, nem a voz nem o sentir... quis ser um desses poetas que tivesse asas e poesia em cada voo... podemos ser usados, abusados, até como lixo abandonados, enegrecidos e deturpados... simplesmente somos quem somos ... podemos ser retalhados, citados e aviltados... podemos ser usados como arma de arremesso... podemos ser teorizados e complicados... podemos ser mistificados e cristalizados... podemos até servir de pasto em chamas inquisitoriais... não somos orações, nem homilias nem credos... e não nos deixamos cair... não somos ameaça do fim do mundo... não somos propriedade de ninguém... não somos espada nem guilhotina... não cabemos na pena nem no ódio de quem de nós se apropria... somos apenas poetas... somos simplesmente imensos... não cabemos em nenhuma semana nem em qualquer dia... somos de todos os tempos... não nos deixamos aprisionar por nenhuma alma negra... somos apenas asas... não somos anjos... somos apenas amor e amamos... e se agora sei, como tão bem sei, que as palavras vos podem fazem voar, que às vezes vos levam para lá do mar, em asas de vento, de dor e de amor... sei também, como sabem todos, que não há palavras nem versos, nem poesias que cheguem para transformar um poeta num anjo..."

sexta-feira, 25 de abril de 2008

sábado, 19 de abril de 2008

pronunciar

“... estendo as mãos ao futuro na ânsia de o alcançar... revejo-me nele como se fosse hoje o que estou a viver... mas depressa caio em mim e sei que estou a sonhar... nada mais que um breve sorriso e um beijo nuns lábios sedosos, como mel que ainda escorre na minha pele... um doce desejo de voltar a sentir esse doce desejo de abraçar-te num voltear de dança parada na imagem do momento ali focada... num sentir que nada se sente para além do amor que existe mesmo e não nos mente... lateja nas nossas faces de rosadas que se tornam da loucura que nos invade e das mãos que se movem na procura... cabeças que se tocam e se enlaçam em cabelos revoltos misturados com os dedos que os afagam... e os braços remetidos à sua função de prender ali, naquele momento, a eternidade do abraço... e os olhos se olham, se miram e sorriem enquanto os lábios se molham no mel de um beijo prolongado, húmido, molhado, doce doçura de tanta candura e desejo... e a boca de vez em quando entreaberta para pronunciar a palavra certa, a palavra aguardada, descoberta, límpida de tudo e do nada pela simplicidade da verdade que existe quando se pronuncia o quanto se ama, o quanto nos preenche e nos invade a Alma...”

terça-feira, 15 de abril de 2008

brilho

domingo, 13 de abril de 2008

fome nua

"...circula na net uma petição a favor da condenação de um artista plástico (chamar-lhe-ía besta quadrada) pela exposição que já realizou onde permitiu a morte de um cão à fome e à sede ali assim em presença de quem passava e via... ninguém reagiu, nem as pessoas, nem as autoridades, ninguém... prepara-se agora para nova "demonstração" chamando-lhe arte... as pessoas movimentam-se em acções para que ele não o faça o que acho muito bem... mas, como posso eu assinar uma petição a favor de um animal se os animais somos nós, todos nós, que não nos movemos, que não fazemos nada perante o quadro que se nos depara no dia a dia sobre o nosso irmão, o ser humano que à luz do dia, à luz do Mundo cruel em que vivemos, assiste impávido e sereno, à sua morte... a crueza da imagem dá-nos a dimensão da petição que deveríamos assinar contra os chamados senhores da guerra que gastam biliões em armas que tão bem poderiam ser gastos em pão... lamento, mas não consigo assinar essa petição por muito asco que tenha desse pseudo artista sem alma..."

quarta-feira, 9 de abril de 2008

incondicionalmente

“… tivesse eu as capacidades de um deus, mesmo dos da antiguidade, de um Zeus, de um Júpiter ou mesmo de um Marte ou até mesmo, porque não, duma Diana… tivesse eu os poderes de tudo demonstrar sem ter de provar, ou seja, bastar ser e não ter de provar que sou o que sou ou quem sou… tivesse eu toda essa força mágica e logo seria a mais pura prova do que há muito persigo: seria o Amor transformado em entrega, seria o Amor pleno, aquele que vive de si mesmo para se bastar e na totalidade se entregar… o Amor que deixaria de o ser para passar ao patamar superior do estatuto da fórmula única da vida plena que é Amar… passamos tempos e tempos sem sabermos o que é isso do Amor ou como é que se Ama e um dia, sem sabermos como, tudo surge ali, à nossa frente, sereno, demonstrativo da nossa anterior ignorância e dizendo-nos bem no nosso interior que o Amor está aqui dentro de cada um de nós e, como tal, livre de ser entregue ao próximo… e é nesse momento, quando o Amor sai de dentro de nós e o entregamos a alguém que ele se transforma numa dádiva e assim, de uma forma tão simples, passamos a Amar… esta entrega, esta forma de se estar na vida, pressupõe a inexistência de condições incluindo o não retorno, ou seja, amar mesmo que não nos amem… essa é a única forma de provar a nós mesmos que estamos a Amar e não tão pobremente apenas a gostar… é por isso que estou sempre a falar do mesmo, a batalhar todo o tempo na tentativa de demonstrar, sem ter de provar, que Amar é a minha forma de ser… tentar provar que se ama é uma forma de se negar a si mesmo porque quem ama não precisa de se afirmar: entrega-se, apenas… entrego-me a ti nas mais pequeninas coisas, mesmo até nos elementos que não são visíveis mas que existem, que estão lá, em ti, vindas de mim… entrego-me a ti sem perder a minha identidade, sem deixar de ser eu mesmo mas o que sou o transmito, o envio, o entrego em totalidade… entrego-me a ti em serenidade, em luz, em paz, em harmonia, com força, com garra, com espírito e alegria… entrego-me a ti num sorriso, num toque, numa palavra, numa frase… entrego-me a ti num beijo, num corpo, numa alma, com a totalidade do meu eu… entrego-me a ti tal como sou, impuro talvez, mas com doçura, em humildade e sem qualquer altivez… entrego-me a ti por amor…”

quinta-feira, 3 de abril de 2008

o meu caminho

“… interrogamo-nos a todo o momento sobre o porquê de certo facto que nos surge ou nos acontece… indagamo-nos sobre o seu possível significado ou sobre o que, porventura, possa querer dizer ou, na maior parte das vezes, de nada valerem ou terem o desejo de serem mensagens ou sussurros do nosso consciente ou mesmo, quiçá, do nosso subconsciente… mas existem factores aleatórios (e outros não) que nos passam pela vida, pela nossa frente, ao nosso lado e não os vemos, nem os sentimos ou apenas não lhe damos valor… e, como se costuma dizer depois: aconteceu porque tinha de acontecer… verdade, talvez… talvez, na verdade, as coisas aconteçam porque têm mesmo de acontecer… o karma, o destino, o fado, sei lá que mais, tantas e tantas desculpas para não aceitarmos que as coisas estão ali ao nosso lado ou à nossa frente porque apenas e tão só fazem parte de nós mesmos… ou, por outro lado, nós fazemos parte delas, num só Ser, num só Estar, numa só Unidade… o mesmo se passa com o Amor ou com o Amar (coisas diferentes, como já o tenho dito várias vezes)… ele, o Amor ou ele o acto de Amar, estão presentes no nosso dia a dia, ao nosso lado, à nossa frente e, tantas e tantas vezes não o vemos (ou não o queremos ver)… então, se se estiver atento, sentimos a presença dele, do Amor porque mesmo que não perto de nós, não ao nosso lado ou nem à nossa frente, o Amor está connosco, dentro de nós… e é ele que, saindo de dentro de nós se transforma na mais pura forma de se estar na vida que é Amar… é esse estado que eu vivo a todo o momento, é por isso que o sinto dentro de mim, que o tento dar-te num gesto, numa palavra, num ouvir-te, num toque, numa forma qualquer que te faça saber que o meu Amor existe, que é puro e que é a única forma que tenho de viver… vivo para Amar, para te amar porque esse é o meu caminho para o teu amor por mim…”

segunda-feira, 31 de março de 2008

banalidades

“… como se costuma dizer, durmo como uma pedra… seja a que horas for que me deite, durma as horas que durma, o sono é sempre profundo e (adoro) recheado de sonhos… quanto mais pesados eles forem (os sonhos, tipo pesadelos) mais liberto me sinto quando acordo… por vezes, quando esporadicamente acordo a meio da noite para aliviar a bexiga, retomo o sono de imediato e, muitas vezes o mesmo sonho… tenho imensos sonhos recorrentes, como por exemplo, sonho imenso com pessoas já falecidas nomeadamente o meu pai (tantas vezes presente nos meus sonhos que até julgo que ele está ali mesmo a dar-me instruções para o dia seguinte)… em resumo, gosto imenso de sonhar e nunca acordo cansado como ouço muitas pessoas dizerem que foi uma noite terrível, vira para ali vira para aqui e que sonhos horríveis, etc… não, adoro sonhar e sinto-me bem… acordo, invariavelmente, à mesma hora e levanto-me, quase sempre, também à mesma hora… hoje acordei, como de costume mas senti uma leve pressão na testa… como tenho o medidor da tensão arterial sempre à mão (desde que tive o avc que mantenho um cuidado com a mesma), medi e o aparelho debitou um valor de 178 – 119 com 101 pulsações, ou seja, mais simples: 18/12… um valor destes logo de manhã assustou-me e imaginei que o aparelho estivesse avariado… a meio da manhã pedi um outro aparelho a um vizinho e o valor estava basicamente na mesma: 17/11… decidi e fui até à praia apanhar o ar frio que vinha do norte… almocei e, como de costume, fui fazer a minha sestinha… quando acordei, medi de novo e os valores mantinham níveis elevados: 16/10… levantei-me e rumei ao Posto Médico… cheguei e, por milagre, fui logo atendido no balcão para a inscrição… na sala de espera apenas uma doente à minha frente… não esperei muito e de imediato me encontrei sentado frente a uma médica… exposto o problema e o historial clínico, a mesma entendeu que eu não estava bem com 16/11 ali tiradas por ela e que, portanto, precisava de medicação urgente para a regulação do problema… lá me deu a receita e uma guia de vigilância durante 6 semanas… de regresso a casa, aviei o dito cujo e pronto, aqui estou a escrever o texto que não sabia que iria escrecer mas que serve muito bem para ilustrar apenas um pouco do que foi o meu dia de hoje… a conclusão a tirar é que foi um dia tão simples, tão banal mas só eu sei a razão deste meu mal… (eu e algumas pessoas mais chegadas, claro…)… como vêem, um relato barato para um fim de mês de Março em que tanto durmo como faço…”

quarta-feira, 26 de março de 2008

momentos

“… existem momentos em que queremos tudo da mesma forma em que há momentos em que nos sentimos felizes com pequenos nadas… momentos em que desejamos que tudo nos envolva ou que tudo possamos abraçar… momentos em que um simples toque tudo pode significar… existem momentos em que desejamos tudo ter e momentos em que um simples beijo transforma todo o nosso ser… existem momentos em que tudo o que existe não nos chega e tudo queremos abarcar… e há momentos em que nos chega um simples olhar… há momentos que ansiamos possuir e momentos que nos satisfazem um terno sorrir… a vida ensina-nos que não interessa a quantidade do que queremos obter mas a qualidade que invade o nosso ser… essa qualidade pode vir de um simples gesto, de um meigo olhar, dum suave toque, dum abraço terno ou ainda duma simples risada, vinda do fundo da Alma, forte e dizendo-nos que a serenidade do riso nos acalma… a qualidade provém do sentir, do que nos faz sorrir e nos serena quando mesmo o temor nos abala… há momentos em que desejamos tudo como há momentos em que esse tudo está nos pequenos nadas que juntos, em aglomerado, nos fazem ver o quanto amamos e somos amados… beijo, feliz e sereno, todos esses pequenos nadas que me dás… entrego-te o meu ser total nos pequenos nadas que te dou... porque é assim que sentimos que o que temos é tudo o que tu és e tudo o que eu sou...”

sexta-feira, 14 de março de 2008

oferta

domingo, 9 de março de 2008

dentro de mim

“… trago-te dentro do meu peito escudada por ternos laços de afeição, de carinho e de paixão… trago-te no meu peito acolhida por todos os laços de serenidade e amor, num cabaz de tudo o que a paz nos pode tornar em seres felizes sem dor… trago-te no meu coração guardada em pétalas de azul celeste de douradas cores que ao longo dos tempos me deste… trago-te em ternuras embrulhada de coloridas sensações de tudo o que a tua presença me dá… trago-te dentro de mim ao sabor do que sinto que vive em ti e que pressinto saber-te dona do meu ser num estado de prazer, de tudo o que me é permito ter… trago-te dentro do meu coração, numa prece, ou oração, num saber que amar é o que te dou e o que recebo em troca numa deliciosa flor, seja ela qual for, mas que representa sempre e para sempre o presente de tudo o que me dás… tenho-te dentro de mim com serenidade e tudo o que representa amor em paz…”

terça-feira, 4 de março de 2008

apenas para ti

“… quisera escrever palavras que ainda não tivessem sido ditas ou escritas porque ainda não inventadas e dedicar-tas só para ti… dizer-te palavras diferentes de todas as que já foram ditas, escritas, reditas e reescritas… poder sentir que aquelas palavras eram só para ti e que mais ninguém as houvera lido ainda nem sequer sido sonhadas porque não inventadas nem rotuladas com significados óbvios… poder sentir que o destino delas era único e que mais ninguém se pudesse apropriar delas porque seriam apenas tuas… poder sentir que nada do que pudesse até então ter sido dito havia sido repetido… seriam palavras para escrever um livro onde nele descrevesse tudo o que estivesse na minha Alma e nunca houvera dela saído para o exterior… seriam sim claro, palavras de amor… mas essas existem em todo o lado, estão espalhadas pelo espaço de todos os pontos cardeais, em todos os cantos, dirigidas em todos os sentidos, conduzindo o Amor para a sua simplicidade ainda que indolor… seriam sim claro, palavras de ternura, de carinho, de afago, de candura, de puro desejo de as sorver num só trago e mais não existissem excepto no teu coração pois para ele elas haviam sido dirigidas… queria sim escrevê-las num só fôlego, num só dizer, num só escrever, numa só direcção e saber que as havias recebido, sentido e digerido dentro do teu ser… palavras escritas para mais ninguém as ler… só tu as receberias e as sentirias porque saberias que te pertenciam… queria, pois, inventar novas palavras que exprimissem o que já sabes sem eu as escrever porque tas digo ao ouvido, porque tas entrego no corpo, porque elas se entranham em ti vindas de mim, num crescendo de Amor sem palavras ditas ou escritas de cor, apenas sentidas pelo teu existir… dessa forma, não necessito de as inventar porque elas já existem dentro de ti quando as entendes no momento em que não as pronunciando, a ti somente as entrego… fico assim sem necessidade de as escrever porque elas mais não são do que o sentir em mim a força do âmago do teu ser…”

sábado, 1 de março de 2008

o meu derradeiro cigarro

“… tudo aconteceu num ápice, num momento normal da vida… era cerca do meio dia e meia hora do dia 18 de Abril do ano de 1988 e encontrava-me de pé encostado ao balcão do café do Luís a comer uma tosta mista e a beber uma cerveja… de repente, a minha vista esquerda deixou de ver… tapei o olho direito com a mão e apenas via um cinzento prateado e uma mancha escura para o lado esquerdo… calmamente, continuei a comer, comi mais um bolito e bebi o meu café… saí normalmente, segui para o meu escritório e fui lavar a cara e deitar água para a vista… mas nada aconteceu, tudo se manteve na mesma… a pé, dirigi-me para a Clínica Santo António, ali perto, entrei, segui até ao balcão e com uma calma tremenda disse à funcionária: - Desculpe, estou a perder a visão, estou a sentir-me mal e a entrar em pânico… por favor, vá transmitir isto ao Médico (por acaso, havia Oftalmologia e havia um em serviço àquela hora)… a moça, muito atónita a olhar para mim, lá se levantou da sua cadeira e seguiu em direcção ao gabinete clínico… quando regressou, um minuto depois, disse-me: - venha se faz favor que o senhor doutor atende-o já… depois de agradecer lá segui para a sala de espera… de dentro do gabinete saiu um doente e eu entrei de imediato… contei o que se estava a passar, fui bem examinado e o diagnóstico foi-me dado logo ali: - o senhor acaba de ter um AVC e precisa de ir imediatamente para a Neurologia. Aguarde um momento que eu vou ver se o meu colega está de serviço… ali fiquei a aguardar… a calma aparente obrigou-me a acender um cigarro, o último que fumei, seriam cerca das 15 horas desse dia… quando o oftalmologista regressou levou-me para o gabinete da neurologia onde o especialista me examinou e confirmou o diagnóstico anterior… passou-me um relatório e disse-me para ir ao Delegado de Saúde carimbar o chamado P1 para poder ir fazer de imediato um TAC… assim fiz… no dia seguinte, de manhã, obtido o documento segui para o Porto onde fiz o dito exame… deitei-me na bela marquesa do túnel do terror e surge um enfermeiro de seringa na mão… aí eu disse: - Um momento por favor: o que vai fazer?... ao que ele me explicou ir injectar-me o iodo para contraste e que iria sentir um ardor na cara que desceria pelo peito até às pernas e que desapareceria nos pés… (assim, na verdade, aconteceu) mais descansado, fiquei estático com a cabeça presa por uma fita e disseram-me para não me mover e olhar para uma luzinha vermelhinha que estava por cima da minha testa… e, pronto, ao fim de uns minutos, saí do túnel e mandaram-me esperar para ver o resultado… havia, na verdade, sofrido um pequeno acidente vascular cerebral provocado por arteriosclerose tabágica (durante 27 anos havia fumado 2 maços diários)… mandaram-me embora com a famosa receita da Aspirina 100 e que deveria ser seguido pela especialidade e fazer uns campos visuais de quando em vez… entretanto, a cegueira foi abrandando apesar de ter durado 33 horas… segui os conselhos e, nunca mais fumei… breve, no próximo mês, farei 20 anos sem tabaco… creio que foi uma vitória apesar de a ter conseguido por ter apanhado um dos maiores sustos da minha vida… e aqui acabei de contar a minha odisseia de como parei de fumar…”

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

a lenda do arvoredo castanho

“…não me vou lembrar concretamente dos pormenores exactos do evento, mas tentarei aproximar os mesmos, dentro da minha memória, à realidade de então… não consigo, pois, precisar a data, nem o ano nem o mês nem o dia nem a hora mas foi num tempo que passou por mim (ou que eu passei por ele, tempo…) em determinada altura da minha vida… recordo a imagem de tudo o que me rodeava e onde estava inserido: era um amplo descampado rodeado de árvores (uma espécie de clareira) castanhas com folhas castanhas (talvez, por esse pormenor, tivesse sido no Outono)… o chão estava repleto dessas mesmas folhas e o vento não existia… elas formavam portanto uma espécie de tapete fofo e convidativo ao mergulho no meio delas… a idade não me permitia aferir dos benefícios ou malefícios desse pseudo mergulho seco… mas a verdade é que, sem mergulhar, me deixei cair no chão sobre elas… uma enorme quantidade voou em meu redor como aves levantando voo… depois, lentamente, voltaram a descer não já sobre o mesmo lugar… algumas caíram sobre o meu corpo de menino, de criança, de inocente… deixei-me ficar ali por uns momentos olhando o céu azul, sem uma única nuvem… via-me numa espécie de poço com as árvores a servirem de parede do mesmo… por cima, a luz azul… não sei precisar a quantidade de tempo que ali estive mas recordo que adormeci e quando acordei estremeci de frio e vi que o céu já não estava azul… era já prisioneiro do cinzento avermelhado… levantei-me e nesse momento dei de caras com ele… era um homem velho, de costas curvadas com o peso de um molhe enorme de ramos de árvores… na mão direita segurava uma espécie de bengala, aquilo que, mais tarde, vim a saber chamar-se cajado… senti que não senti medo nem desatei a fugir, nem a gritar nem a chorar… aqueles olhos que me fixavam tinham um brilho diferente do que era do meu conhecimento… não reconheci naquele olhar um olhar humano mas apesar desse factor o olhar tinha um esplendor e resplandecia de luz… olhou-me, sorriu-me e estendeu-me a ponta do cajado como que querendo dizer ou perguntar quem eu era e o que fazia ali… como hipnotizado sei que me aproximei dele e toquei com a minha frágil mão na ponta desse pau… senti a rugosidade da madeira mas mantive ali a minha mão… não consigo explicar o que senti mas consigo visionar ainda o que se seguiu: da mão daquele velho saiu uma espécie de luz violeta que percorreu a vara, o cajado ou a bengala ou lá o que era e parou nos meus dedos e senti um suave calor no punho… nesse momento, retirei a mão e olhei para ela para ver o que se estava a passar: nada, a minha mão estava na mesma, não tinha nada que me pudesse ter preocupado… volvi, de novo, os olhos para o sítio em fronte de mim onde estaria o velho… nada estava lá… o vazio era total… aí, tive um frémito de medo e dei meia volta em direcção a casa… o caminho não estava alterado, tudo estava na mesma e quando cheguei a casa, nada de estranho deixei transparecer até porque minha mãe nada me disse: como se eu tivesse saído dali naquele momento e de novo voltasse para trás… dali a pouco senti o cheiro da sopa e lembro-me que naquela noite não consegui dormir… ainda hoje, a minha mão direita está sempre quente e não sei explicar a razão nem sei explicar se aquilo que está na minha memória se passou no real ou se foi um sonho mas por todos os elementos que ainda possuo, continuo crente que algo me tocou naquele fim de tarde, naquela clareira, de árvores castanhas com folhas castanhas espalhadas pelo chão…”

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

companheiro

“… chamava-se Ben-Hur… não tinha raça certa e era preto… hoje o meu Black faz-me lembrar um pouco esse meu primeiro cão… eu tinha na altura os meus 5 anos e me lembro muito bem dele… tinha a sua casota ao fundo do quintal junto aos galinheiros e ao pombal… (já naquele tempo o meu pai era columbófilo e de muito cedo a minha paixão pelos pombos se revelou que mais tarde, vim também a interessar-me pela modalidade)… servia de guarda mas de dia andava solto pelo quintal… já contei no meu antigo blogue algumas histórias do meu actual Black mas sobre este meu primeiro companheiro ainda não havia escrito algo sobre ele… quando os meus pais saíam de casa e eu tinha de ficar, ele o Ben Hur ficava comigo dentro de casa… então, inocentemente, brincava com ele e recordo que o seu corpo era maior que o meu… recordo que um dia a brincadeira me cansou e eu adormeci deitado no chão do corredor… ao meu lado o Ben Hur tinha-se deitado com a pata debaixo do meu pescoço e naquela posição ficara até os meus pais chegarem… acordei com o rosnar do bicho… meus pais queriam pegar em mim mas o cão não o permitia… talvez dentro dele se travasse uma batalha: a quem obedecer?... Ao dono, meu pai, ou defender a posição do seu fiel companheiro que era eu?... Recordo de me ter levantado e ao mesmo tempo ele se levantou também e se sacudiu, como é costume deles quando saiem da água, como para desentorpecer os músculos que deveriam estar exaustos da posição ora assumida… não tenho uma recordação muito fiel do olhar dele mas lembro-me do meu, dez anos depois quando ele morreu após prolongada doença e já cego não deixou de olhar para onde eu estava a ver os seus últimos momentos… não me via mas sentia-me… quando tombou o focinho preto no cimento do chão, os meus olhos não contiveram as lágrimas… e, sinceramente, não sei porque me lembrei hoje dele, aqui e agora… talvez porque o latido lá fora do meu actual Black me tenha feito recuar 50 anos no tempo e lembrar-me do meu primeiro cão…”

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

desnudo-me

“…vá, tirem-me tudo… eu me desnudo num gesto simples e urgente… tu e toda a gente… tirem-me tudo, tirem-me o corpo, a alma, o sorriso e a calma… tirem-me o juízo, a paz, a rectidão… tirem-me o siso, o beijo e o riso… tirem-me o sol e a lua… façam um longo rol… tirem-me tudo... eu me desnudo... tirem-me a pele, a voz, o coração... tirem-me as mágoas, as roupas e a saudade… tirem-me o peito, o respeito e a verdade… tirem-me o ontem, o hoje e o amanhã… tirem-me tudo mesmo que seja já... eu me desnudo… façam uma lista e de nada se esqueçam… façam revista… tirem-me tudo à chegada ou à partida... tirem-me tudo que eu me desnudo e à vossa disposição me ponho... mas, por favor, não me tirem o sonho...”

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

repetir vezes sem fim

“…sentei-me na minha cadeira de executivo (sim, tenho uma cadeira dessas aqui no canto onde me sento para me deliciar com as palavras que escrevo…) a fim de lançar para este ecrã mais umas quantas letras que formassem um texto (a pretexto de quê, não sei…) como tantos e tantos outros que ao longo da vida fui escrevendo… sim, já escrevo desde os meus 16 anos e desde o meu primeiro escrito até este momento, tudo tentei dizer, incluindo a mim mesmo, o que nem eu sabia que sabia ter cá dentro para o fazer… escrever, dá-me prazer, mas nem sempre sei o que dizer… muitas vezes as coisas que escrevo não fazem sentido no início da escrita mas ela vai-se desenvolvendo e, no fim, quando a fecho com as minhas habituais aspas, olho e fico feliz por ver mais um pouco de nada que faz parte de mim e aqui fica espelhada a alma de onde essas palavras saíram… muitas vezes o que digo não interessa mas não é isso que me move, ou seja, não procuro transmitir mensagens aos outros, sou um pouco mais egoísta e escrevo mais para mim do que para vós que me ledes… porém, não deixa de ser escrita, não deixa de ser algo que sai de mim, uma letra que seja e que tenha de ser dita… às vezes, tento dizer o que não sei e quando sei não consigo dizer… é o tal dilema de quem escreve e não sabe porque o faz… apenas porque lhe apraz… depois, versejo numa prosa despida de gosto porque a rima sai natural e, sem querer fazer mal, tento repetir o irrepetível, ou seja, tento dizer o que nunca foi dito mas, desdita minha, nunca o consigo… parece castigo (sem dor), apenas repito vezes sem fim o que sinto tão-somente dentro de mim… amor!...”

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

uma forma de escrita

"... coloco aspas e reticências... um hábito já muito antigo quando quero viajar pelas palavras nem que seja para vos desejar uma boa semana de trabalho... tento, dessa forma, pairar sobre elas na procura das letras que formem palavras... pairo sobre as vogais e as consoantes e demoro-me na procura das frases, das orações, dos pronomes, dos adjectivos, dos verbos e das verbalizações... concebo ainda a existência das vírgulas, dos pontos, de exclamações e por vezes coloco também uma ou outra interrogação... passo ainda pelos advérbios, pelas conjunções, pelos acentos circunflexos, agudos e em algumas vezes os graves... utilizo ainda as palavras que contenham hífen e quase nunca as que possuem tremas... dou uma olhadela pela possível utilização dos números ou dos algarismos, mas raramente... aproximo-me ainda dos galicismos ou de outras proveniências e tento, por ventura, fazer algum sentido com toda esta amálgama de fonemas, ditongos ou quem sabe ainda se também pelas amorfas e pelas átonas... o que quer que elas sejam, elas ficam aqui impressas num exercício renovado de prazer em as escrever e depois as ler... depois desta viagem, pouso a escrita com mais umas reticências e fecho a porta com mais umas aspas..."

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

usar o instinto

“…há sempre algo que nos impede de fazer o que achamos que não devemos fazer… como que, dentro de nós, houvesse uma espécie de censura que velasse pelas nossas acções… o que podemos e o que não podemos fazer é algo que, primeiro, vai à loja da censura e só depois segue para fabrico... a forma final do produto é que poderá ser diversa daquela que foi projectada... onde nos leva tal atitude?... que castração nos provoca semelhante sujeição?... porque não fazemos apenas o que nos apetece fazer?... o que é isso de consciência?... é uma espécie de balança com uma série de pratos onde são pesados todos os prós e os contras daquela acção planeada... porém, porque razão agimos de imediato, sem pensar, em momentos de crise duma forma a que chamamos de instinto?... ou será que mesmo antes de agir instintivamente, a loja da censura funciona mesmo sem darmos por isso?... será que há, na mesma, um pesar na balança?... saltamos de imediato para o lado para evitarmos ser atropelados por uma carro mesmo sem vermos que podemos cair na valeta cheia de água suja da sarjeta… fugimos rápidos, em caso de incêndio por exemplo, da varanda para a rua sem olharmos à altura que nos separa dela e sem pensarmos que podemos partir uma perna… porém, no dia a dia das nossas acções habituais de vida em que o instinto não é preciso, as nossas atitudes são “pesadas” antes de as tomarmos, como se de uma poção mágica se tratasse e fosse preciso tomar a medida exacta… então, hesitamos antes de agir e somente depois actuamos… as nossas escolhas devidamente pensadas tanto podem dar para o certo como para o torto… não há maneira de sabermos se aquela decisão, ainda que devidamente gerida e equacionada, vai resultar em pleno... mais tarde é que saberemos o resultado... na verdade e a experiência mostra-nos isso, quando usamos o instinto, verificamos o resultado da acção então utilizada, de imediato, quer seja bom ou mau… também, de imediato, ficamos felizes ou infelizes com a opção tomada... já quando apenas a tomamos depois de devidamente ponderada a questão, somente muito depois veremos o resultado… e até podemos viver angustiados aguardando o desfecho… será que fiz bem, será que fiz mal?... e agora?... bem, só tenho que aguardar e esta espera, esta expectativa provoca angústia, provoca danos, provoca dor... que faço?... escrevo um texto sobre que tema?... bem, vamos lá ver... penso, repenso e nunca mais me surge a inspiração para desenhar algumas letras sobre um tema que nunca mais se faz luz em mim… então, de imediato, começo a teclar instintivamente… saiu o que acabaram de ler... ao mesmo tempo que escrevia ia vendo o resultado de imediato daquilo que surgia no monitor... não houve angústia… não houve dor… utilizem o instinto o mais que puderem… vão ver que, geralmente, dá certo... também o pior que poderá acontecer é terem de perder tempo a ponderar a questão... mas será que ponderar é assim tão mau?... não sei, a decisão é sempre individual... façam o que vos aprouver... façam o que vos der na real gana... sejam felizes nem que para isso seja preciso chorar um pouco... às vezes é o medo de chorar que nos impede de avançar… porém, quase sempre vale a pena… é que umas quantas lágrimas ajudam a clarificar a situação e o panorama, após o choro, é quase sempre um pouco mais claro!...”

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

a nossa longa caminhada

“…há uma coisa que é necessário definir: todos nós, quando escrevemos (ou falamos), dizemos coisas reais e dizemos coisas irreais... fazemos um misto de retórica vã e não só… colocamos muito de nós e também muito daquilo que vai no nosso imaginário… não só falamos do que sabemos como também falamos do que não sabemos mas, principalmente, falamos com a Alma, com aquilo a que eu chamo de "desejo"… fala-se do que "desejaríamos" que assim fosse… quando não "foi assim" então fala-se do desejo de não ter sido como desejáramos que tivesse sido… somos todos duma ambiguidade angustiante (quer se queira admitir isto ou não)… mentimos a nós mesmos para nos desculparmos de tudo só que nos esquecemos que não somos culpados de nada… a ilusão não está em nós mas em tudo o que nos é dado como perceptível, ou seja, o que nos rodeia é que pode ser ilusão… nós não somos uma ilusão… a ilusão gira à nossa volta e tenta-nos de forma a que se perca a noção do que é a verdade e do que é a mentira… ficamos, então, apenas com o que temos… e o que é que temos?... a esperança de estarmos enganados ou de nos termos enganado e de que há ou vai haver solução… desesperadamente procuramos resolver esse problema… doutras vezes, desistimos e deixamos que tudo "morra" no limbo do esquecimento… no entanto, esse limbo é também ele mesmo uma ilusão pois o esquecimento não é viável… não podemos "cortar" ou "apagar" a memória… e esta é a que nos devora… engole-nos por vezes duma forma assustadora e noutras vezes duma forma mais suave mas não deixa nunca de nos engolir… somos como que absorvidos por esse buraco negro que é a lembrança… lembramos tudo, principalmente o bom porque subconscientemente escondemos num recanto da nossa memória tudo o que foi mau… até porque nunca tivemos a culpa do mal ou do mau acontecido… somos uns eternos inocentes… fazemos assim, ao longo da vida, exorcismos aos nossos demónios em vez de lançarmos louvores aos nossos anjos… passamos uma vida inteira a lamentar o inlamentável em vez de nos alegrarmos com tudo o que não deve ser esquecido… e tudo, tanto o bom como o mau, deve ser contabilizado na nossa passagem por esta dimensão do aqui e agora… e só há uma forma de se "conviver" nesse estádio de vida: é aceitar o que nos é dado viver… é aceitar o que nos é dado pois nada daquilo que "temos" é nosso… foi-nos concedido passar por isso, foi-nos concedido vivermos nisso, foi-nos concedido vivenciar determinados factos, factos estes que serão única e exclusivamente nossos e de mais ninguém… mais ninguém no universo sente o que eu sinto, mais ninguém no universo sente o que tu sentes… somos seres únicos, individuais e totalmente imperfeitos… vamos a caminho da perfeição mas que tarda em chegar… vamos ter muito que caminhar ainda até conseguirmos a espiritualidade do ser… porém e como ainda somos imperfeitos é-nos "concedida" a capacidade de "chorar"… é por isso que nada nos satisfaz… é por isso que buscamos a felicidade (quando ela está aqui, dentro de nós)… é por isso que sofremos… é por sermos ainda imperfeitos que não sabemos (ainda não aprendemos) aceitar… no que me diz respeito, tento duma forma lenta mas sistemática, tentar aceitar mas, na verdade vos digo, que não é fácil e, por vezes pois, preciso de "gritar" e de usar a tal forma de equilíbrio que me permita lentamente sentir o caminho que piso numa caminhada que sei tenho de fazer, sem olhar para o caminho mas apenas com a vontade enorme e grandiosa de caminhar… caminhemos, pois, de mãos dadas com o Amor, o único que nos fará sorrir e ter mais forças para percorrermos esse caminho, o caminho da Sabedoria, da Luz, da Paz e da Harmonia…”